Descrição
“Em maré de desordem, o tempo vai-nos mudando as cores, o olhar, as inquietações, as ambições. Ora deixa-nos voar embarcados nos nossos pequenos e grandes sonhos, ora abaixa-nos o céu, arrastando-nos pelo pó e a lama. Estilhaça-nos em guerrra e morte, naufraga-nos em ilhas no meio do oceano e, numa viragem distraída, devolve-nos à terra vermelha das florestas e trovoadas.
Há algures umas raízes em cólera a furar o maldito alcatrão, há no interior do cérebro um insecto amigo que se empenha em roer as nossas imagens mais perversas.
No bairro, um crime de sábado à noite reedita uma história antiga que o tempo deixara arrecadada entre os briquedos da infância, enquanto de dia, no mercado de Bandim a ternura da comida se antecipa a afagar as outras fomes do corpo.
São doze contos Ku Si Mon da cor do tempo, uns opacos, outros diáfanos, com muito verde e algum lixo pelo meio. Mas todos com o olhar posto aqui, onde foi plantada a árvore do umbigo.”